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Bernardino foi ordenado sacerdote em 1910, indo para Cáceres como professor
do Colégio São Luís. Mais tarde, quando foi aberto o Colégio São Francisco,
em Poconé, ele foi designado para assumir a sua direção, lá ficou por quase
trinta anos. Conforme já disse o internato desse Colégio servia
principalmente para filhos de fazendeiros. Estes como passavam a maior parte
do ano em suas fazendas pediram para o Vigário abrir um internato onde
pudessem deixar os seus filhos.
Os fazendeiros e suas famílias formavam a aristocracia de Poconé, Frei
Bernardino encarregou-se da vigilância e do ensino dos filhos dessas
famílias, e as crianças educadas com o cuidado que era peculiar e esse Frei
tornaram-se, em sua maioria, uma base sólida de promoção religiosa. Isto
influiu para que mais tarde , a população de Poconé fosse profundamente
cristã. Frei Bernardino esmerava-se em desenvolver em seus alunos o
sentimento da responsabilidade. Todos se admiravam como se comportavam os
alunos quando, por algum motivo apostólico, o Frei precisava os alunos
disciplinadamente punham se em fila e prosseguiam os estudos.
Bernardino cuidou também de formar alguns moços para a vida religiosa,
desejoso de Ter quem o substituísse mais tarde. Uma primeira leva veio para
são Paulo em 1932, chefiada pelo próprio Frei Bernardino, quando da fundação
da casa de São Paulo. Dessa primeira leva resta o Bispo resignatário de
Guajará- Mirin, D. Luís Roberto Gomes de Arruda. Até 1939, quando fui
designado para dirigir o internato, vários grupos de jovens vieram para o
seminário em São Paulo. São desse tempo o recém- nomeado Bispo Auxiliar de
Cáceres, Frei José Afonso Ribeiro, e os Padres José de Lima e Antônio
Monteiro da Costa, ambos residentes em Mogi- Mirim.
A outra figura da verdadeira epopéia missionária que a nossa Ordem realizou
é a do Frei Carlos Valette. Ele era filho de um afamado pintor, cujas obras
estão expostas em vários museus do sul da França. Seu tio, Frei Leão Valette,
foi o grande pintor das cenas da vida de Nossa Senhora na belíssima Igreja
de Notre Dame de Ia Dreche, perto da cidade de Albi.
Frei Carlos veio para o Brasil com a leva de 1906. Sempre teve grande
atração pela botânica. Conhecendo , pois, as propriedades das ervas, isto
muito lhe valeu para o ministério a que se dedicou, especificamente o de
socorrer a pobreza. Ele esteve, inicialmente, no Convento de Cáceres.
Em 1915 Frei Carlos foi designado para o Convento de Cuiabá, onde continuou
sua extraordinária obra de caridade visitando os casebres de todos os
subúrbios da capital. Em 1925, quando foi fechada a residência de Cuiabá,
ele seguiu para Poconé, onde ficou até sua morte em 1915, ou 16. Sua morte
foi em especial pranteada pelos pobres; sua vida fora praticamente dedicada
a eles. Poconé homenageou-o dando o nome de Frei Carlos a uma de suas ruas.
Carlos era especializado em Botânica, principalmente em plantas medicinais.
A Ordem Terceira organizou um laboratório homeopático na cidade de Bordeaux,
aproveitando e estudando o valor medicinal e a experiência científica
provenientes de plantas do Brasil e de algumas outras do mundo inteiro.
Assim, os conhecimentos do Frei Carlos se tornaram ainda mais úteis. Até
1933 Frei Carlos utilizava as plantas pelos seus conhecimentos próprios,
aproveitando-se também de experiências dos caboclos e índios. Foi nesse ano
que cheguei a Poconé. Acabava de voltar da França, onde o grande
radiestesista que foi Frei João Luís Bourdoux me ensinara os segredos da
radiestesia.
Um dia, quando eu andava em viagem apostólica, encontrei um homem desolado
porque, segundo me disse, não encontrava nenhuma posição de descanso.
Disse-lhe que raiasse o seu chinelo a Poconé. Mandei chamar o Frei Carlos e
lhe pedi para trazer as garrafas de remédios preparadas por ele. Tomei então
do pêndulo, colocando-o, por alguns instantes, sobre o chinelo, para que
pudesse capitar as irradiações do seu dono. Depois coloquei o pêndulo sobre
cada uma das garrafas trazidas pelo Frei. Em algumas o pêndulo quase não se
moveu, em outras se moveu muito mais. Frei Carlos ignorava tudo sobre o
pêndulo e não sabia se era sensível. Fez o mesmo que eu fiz com o pêndulo
sobre as garrafas, conseguindo os mesmos resultados que eu obtivera. Carlos
ficou admirado dos seus poderes! Desde então ele passou a usar o pêndulo
para saber qual dos produtos era melhor para o paciente.
Enquanto falo de plantas e doentes, quero relatar um fato curioso que se deu
em Poconé. Um pobre leproso que tinha sido colocado fora da cidade, num
ranchinho, lá esperava a morte, Cercara uma areazinha perto do rancho e lá
cultivava mandioca, feijão, etc. Certo dia foi mordido por uma cascavel.
Resignado, ele, vendo que não havia nada a fazer, foi deitar-se na rede, à
espera da morte. As horas foram passando e ele não se encontrava pior; ao
contrário, começou a sentir fome. Preparou alguma coisa para comer e depois
de alimentado foi deitar-se novamente. No dia seguinte parecia estar com o
corpo mais leve e aos poucos foram desaparecendo os sinais da lepra. Ele
estava curado! |
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